UMA RESPOSTA A UM COMPANHEIRO DE PORTUGAL QUE REJEITOU UMA MENSAGEM DE REIVINDICAÇÃO — DE UMA COMPANHEIRA TRABALHADORA SEXUAL DA ARGENTINA— PELOS DIREITOS DAS TRABALHADORAS SEXUAIS NAQUELE PAÍS

abril 27, 2018



Meu estimado companheiro Rui Algarvio, espero que você esteja muito bem. Tínhamos muito tempo sem falar.


Achei muito interessante o artigo do Partido Comunista do Portugal[1] que você me compartilhou. Eu penso que talvez eu podería coincidir em algumas razões sociais, econômicas e estruturais sobre o problema da opressão das mulheres no sistema capitalista. Especialmente no sistema onde as mulheres são exploradas por organizações empresariais onde o proxenetismo é o jeito central da exploração. Acho que a maioria, senão todas as pessoas que defendemos nossas companheiras trabalhadoras sexuais o fazem como uma reivindicação sobre a liberdade de decisão sobre seus corpos. E sim, acreditamos, sim, que pode ser "por uma opção" como disse o artigo que você enviou-me. Eu creio que nesse sentido não são a maioria as que fazem isso porque elas têm gosto principalmente; sino que são as condições econômicas e sociais que as empurram; a pobreza e a desigualdade, por exemplo.


Eu não tenho estatísticas que mostrem mais cientificamente a realidade, mas é verdade que há muitas mulheres que com uma reconhecida consciência de classe, e uma trajetória de luta contra o capitalismo (por exemplo, Monique Prada), fazem esse trabalho porque elas querem, somente, né?... Porque também gostam desse trabalho, e acredito que é absolutamente legítimo porque elas têm que ter a liberdade para decidir sobre o que poderia acontecer com seus próprios corpos, suas vidas, e desejos, sem outro intermediário mais que elas mesmas e o cliente (seja mulher ou homem). Atualmente no capitalismo evidentemente os e as empresárias do proxenetismo não esperariam muito tempo para fazer os negócios necessários para proletarizar as mulheres "livres" trabalhadoras sexuias. Isso é verdade, mas o vídeo não disse que a companheira está sendo explorada por uma empresa, como disse Moonens Alessandra, senão que ela está exercendo o trabalho por sua própria conta, então ao parecer o valor excedente (mais-valia) não fica nas mãos do proxeneta porque simplesmente não há lí, nessa experiência laboral, nessa relação comercial.


Acho que as mulheres trabalhadoras sexuais marxistas, anticapitalistas, anarquistas e feministas, por exemplo, não querem mais estar vivendo o sistema capitalista patriarcal, mas acho que elas vêem isso como um trabalho normal porque elas já tinham discutido sobre a moralidade burguesa, a propriedade e a sacralidade sobre seus corpos, e eu insisto, ela (a mulher do vídeo não disse que é uma trabalhadora dependente de um proxeneta) está fazendo um serviço como qualquer outro serviço que nós faríamos no qualquer área da vida, especialmente porque elas como o resto de nós somos donos de nossos corpos.


Tá certo que muitas delas vêem a oportunidade de trabalhar para elas dentro do capitalismo —pra sobreviver muitas das vezes—, e não para um capitalista mais, pelo menos diretamente, ao mesmo tempo desejam a abolição do Estado Burguês e da sociedade de classes.


Pra concluir pelos momentos, elas propõem uma linha de discussão interessante sobre a moralidade das relações sexuais e a sacralidade, beatitude e santidade que temos desde o imaginário cristiano em nossas concepções na construção sobre nossas práticas e nossos corpos.


Outra coisa, eu acredito que fazer programas de "apoios e ajudas" pra a reinserção delas na sociedade talvez sejam provavelmente umas propostas que não resolveriam as condições de classes e de opressão atuais, só lhas deixariam sendo umas proletárias "mais decentes" para continuar sendo escravas prostituídas por o sistema capitalista —agora mais diretamente— para seguir entregando a mais-valia e seu precioso e valioso tempo de vida num servil e degradante sistema de horários onde perderiam a liberdade de planejamento da suas vidas porque com isso contribuiria a ser "melhor mulher" numos trabalhos mais dignos que escondem a maior e mais consentida das prostituições e escravidão moderna do Mundo enteiro; a proletarização da humanidade no capitalismo.


Bom, isso o que eu penso agora, meu irmão. Até mais.



[1] http://www.pcp.pt/legalizacao-da-prostituicao-em-portugal-representaria-legitimar-mecanismos-de-opressao-exploracao

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